Saúde mental das crianças e adolescentes

Os impactos provocados pela pandemia na saúde mental dos jovens

A saúde mental está relacionada ao emocional de uma pessoa, é estar bem com você mesmo, com o ambiente e com os outros ao redor. Ela não está somente ligada às enfermidades ligadas à mente, mas sim a ter uma qualidade de vida adequada. Para tanto, é necessário saber lidar com as situações que esta passa. Atualmente, muitos adolescentes enfrentam problemas relacionados a essa questão e, além de serem casos individuais, eles afetam a vida no coletivo, tornando-se um impasse social. No contexto da pandemia, a situação da saúde mental de jovens, crianças e adolescentes se agrava cada vez mais.

Ao estarem isolados de seus amigos, familiares e professores, os adolescentes, que também são alunos, se veem numa situação desconfortável por terem de enfrentar mazelas que, antes, não eram sequer imaginadas por estes estudantes. Não houve preparação para que pudessem aprender a como viver em isolamento e, ao serem forçados a ficarem dentro de suas casas, problemas relacionados à temática surgem sem aviso prévio.

Relatos: Vidas e como elas foram abaladas. 

Raíssa Rosário
Raíssa Rosário – Arquivo pessoal.

A estudante Raissa Rosário da Hora, de 16 anos, moradora de Sacramento, São Gonçalo, fala um pouco sobre seus sentimentos em relação a esse acontecimento que tem causado desconforto e estresse no cotidiano. Na entrevista, ela diz acerca da vida em isolamento: “É uma experiência bastante complicada, principalmente por ser uma situação nova e inesperada. Eu nunca tinha imaginado viver em uma pandemia, ninguém na verdade, tudo aconteceu muito rápido.” Relatos assim demonstram como os jovens se sentiram quando, de repente, viram-se sob uma condição na qual nunca haviam imaginado antes. 

No segundo ano do ensino médio, Raissa está em um momento decisivo de sua vida. Seus estudos e dedicação estão direcionadas a sonhos futuros, sob os quais tudo depende de seus esforços e da maneira como ela lidará com os desafios que se intensificaram após o ano passado, quando a pandemia começou. Sua resposta em relação aos danos sofridos foi a seguinte: “Acredito que seja bastante prejudicial principalmente na questão dos meus estudos, não só para mim, mas também para a maioria dos estudantes no Brasil, o país não estava preparado para um acontecimento assim, e infelizmente a educação foi um dos sistemas mais afetados.” Com problemas em seu sistema educacional, o Estado não foi capaz de manter uma qualidade de estudos e também não fez cronogramas dignos para que os alunos sentissem menos os impactos provocados pela covid-19. 

A saúde mental da estudante “não está muito boa” segundo suas próprias palavras. “Eu tenho tido muitos problemas para lidar com minhas emoções ultimamente e é bem difícil ter uma estabilidade diante de um cenário tão complexo como o que o Brasil e o mundo se encontram. A falta de comunicação com pessoas próximas devido a pandemia tem sido muito estressante e eu acabo por surtar com coisas mínimas.” O aumento das tensões geram mais desconforto e complicações na vida dos adolescentes, que já não são capazes de lidar com o novo cenário social em que se encontram. Para alguém que estava acostumado a sair de casa diariamente, ver-se forçado a permanecer em casa constantemente pode resultar em diversas complicações. 

A adolescente, Sthefany Pereira dos Santos, com 17 anos, estudante do ensino médio, faz algumas declarações acerca da vivência na pandemia. Em uma frase, ela descreve como se sente ao relembrar de todo o período de isolamento: tem se sentido “péssima, pois perdi muitas pessoas próximas”. As mortes de parentes causam dores em quem fica e, após a perda, pode ser difícil ter de encontrar forças para seguir nos seus objetivos. 

Aluna do Colégio Pedro Segundo, Sthefany tem se sentido mal por estar solitária nessa busca por conhecimento. Ela busca força e motivação dentro de si para conseguir estudar. Sente falta da escola, pois lá não parecia ser a única que estava em busca de desenvolvimento pessoal. Seu relato sobre a rotina demonstra a dificuldade que pode ser vista: “minha rotina na quarentena está sendo bem cheia também, só que de uma forma diferente. Antes eu vivia na correria, mas cercada por pessoas que estavam na mesma coisa que eu, se ajudando. Agora sou eu aqui sozinha e eles lá.”. Contudo, não parou de se esforçar porque seus sonhos de passar no vestibular a forneceram motivação necessária para seguir em frente. 

Seus pais não demonstram muito interesse em temáticas como essa em que a compreensão do assunto é fundamental em todas as idades. Conversar com crianças e adolescentes a respeito dessa temática pode ser capaz de proporcionar uma melhoria significativa na vida das pessoas envolvidas.

A estudante Mirela Ramos da Silva, com 15 anos, moradora do Baldeador, município de Niterói, está no primeiro ano do ensino médio. Em seu relato, a aluna diz que sua saúde mental está “péssima”. Tendo aulas remotas, ela diz não estar recebendo nenhum tipo de informação ou suporte da sua escola, Ciep 251 – Dona Maria Portuga, acerca dessa temática, “Não, eles não falam nada disso, e não eu não estou conversando com ninguém sobre.” Além de viverem em um ambiente mais desafiador, alguns desses jovens não têm com quem contar caso estejam passando por problemas. Os dias estão cada vez mais difíceis para quem precisa encontrar em si forças para prosseguir correndo atrás dos seus sonhos. Na sua declaração, Mirela afirma encontrar motivação em seu Deus. 

Os pais dela demonstram preocupação em relação ao seu bem estar, o que a ajuda muito. Quando disse a respeito do que a desmotiva, respondeu “sei lá, às vezes, tudo.” Um futuro que depende do Estado e de sua estrutura pode acabar fazendo com que, ao ver o colapso que o Brasil está enfrentando, faça com que a estudante fique desmotivada. “Acho que o Brasil entrará em crise, novamente.” 

O que as histórias revelam…

A história dessas três jovens revelam também o contexto de muitas outras que tiveram suas vidas viradas de ponta a cabeça. Enfrentando uma nova rotina, onde elas precisaram se reinventar para conseguir continuar seus estudos e ter motivação para o futuro, todas responderam que não estão muito bem por dentro. A pandemia tem causado efeitos enormes no bem estar social e percebe-se que existe muita pressão sob os adolescentes nesse momento. Presos a esperança de terem um futuro melhor no qual possam se orgulhar de seus feitos e conquistar seus sonhos, eles precisam ter forças para manter o ritmo, não permitindo-se deixar levar pelos pensamentos negativos que os cercam a cada perda de um familiar que ocorre por causa da covid-19, nem pelo medo de ver todo o país sofrer todo o tipo de cortes nos sistemas que são essenciais para a sociedade como um todo. Dentro desse ambiente caótico, eles fazem o que podem para não desistirem a cada segundo de suas motivações e objetivos futuros. Suas rotinas seriam melhores se as famílias e as instituições de ensino falassem sobre a questão da saúde mental, pois, segundo as três informaram, apenas um desses dois agentes (ora pais, ora escolas) falam acerca disso e, quando falam, não é de um jeito muito eficaz. 

Vivendo num país desestruturado e repleto de falhas nos mais diversos setores, torna-se impossível manter uma saúde mental adequada já que os cidadãos mais pobres precisam de oportunidades para seguirem seus sonhos, necessitam de apoios e principalmente informações sobre como podem usar os talentos que possuem para o desenvolvimento da sua nação. Além dos eventos que ocorrem em suas próprias vidas e todos os impasses que eles provocam, os jovens têm que lidar com as notícias que chegam constantemente aos ouvidos, às novidades acerca das provas que precisarão fazer em breve e das crises que, em algum momento próximo, afetarão diretamente o estilo de vida que estes sonhavam em levar.

Coluna por David Lucas e Laleska Vaz, por Agência de Popular Jovens Comunicadores.

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