Por Giulia Mangeli, psicóloga da BemTv
Dia 10 de Outubro é dia da saúde mental e aqui afirmamos a impossibilidade desse tema ser tomado como um campo destacado da saúde, do coletivo, do cuidado e das políticas que garantem acesso.
Ao pensarmos nas juventudes periféricas é crucial considerarmos os efeitos de processos vulnerabilizantes na saúde que produzem sofrimento, reduzindo possibilidades de acesso e existência. Desse modo, a saúde mental também se configura como um lugar estratégico para a luta na redução das desigualdades de todas as esferas: raça, classe, gênero e sociais.
É nessa discussão que ponderamos a concepção do sofrimento psíquico como algo alienado de um contexto social que produz violências em determinados corpos e sujeitos, delimitando o ir e vir e as possibilidades de acesso. A saúde mental precisa estar situada: saúde mental de quem?
Falamos sobre a saúde mental da juventude? Se sim, nesse caso, é preciso corrigir, juventudes. Falamos de uma multiplicidade de jovens, de histórias e territórios. E, se falamos da saúde mental das juventudes, precisamos falar com urgência de empregabilidade, inserção de possibilidades de autonomia financeira e de, claro, direito à educação, saúde, cultura e lazer. Entretanto, para falar da saúde mental das juventudes o passo inicial e principal seria: escutar as juventudes e toda sua complexidade, potência e possibilidades de criação e resistência.
O cuidado em saúde mental perpassa pela posição de escutar todas as complexidades e contradições dos sujeitos, histórias de cada um, sem abrir mão de uma dimensão coletiva ali presente. Essa posição, inclusive, é presente na construção da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Todos os dispositivos que fazem parte dela (Ambulatórios, Centro de Atenção Psicossocial, Centro de Convivência) são também efeito de luta de movimentos que combaterem a lógica de aprisionamento manicomial afirmando que lugar da loucura e do sofrimento mental é na cidade, no coletivo. O sofrimento psíquico precisa ser cuidado e escutado, mas também incluído na cidade e no coletivo e não aprisionado em manicômios.
Nesse sentido, um dia “da saúde mental” também poderia ser um dia de luta coletiva pela redução das desigualdades e defesa das possibilidades de acesso e não aprisionamentos. Acesso produz saúde, reforça potências e amplia possibilidades de existências!