Há cinco anos atrás, uma jovem comunicadora moradora do bairro Jardim Catarina, em São Gonçalo, relatou ter sido mais uma das inúmeras vítimas diárias de discriminação. Recém iniciada no Candomblé, ela tentava pegar um ônibus para voltar do trabalho quando foi surpreendida pelo comentário do motorista que alegava “não transportar macumbeiros em seu veículo”.
Fabiana Figueiredo de Souza, que na época tinha 23 anos, vivenciou uma situação revoltante que infelizmente não é um caso isolado. De acordo com a pesquisa realizada pelo Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, apenas em 2021 houve um aumento de 141% nas denúncias sobre intolerância religiosa. A maioria das vítimas do preconceito são mulheres, pessoas pobres e negras.
Você já parou para pensar de onde se originam esse tipo de atitudes preconceituosas? No decorrer de mais de trezentos anos, nosso país recorreu à mão de obra escrava africana e indígena como base para seu próprio desenvolvimento e, como resultado, incorporou discriminação na organização dos pilares da sua sociedade. Daí surge o racismo estrutural e a consequente naturalização de um extenso histórico de práticas políticas, institucionais e interpessoais que oprimem os povos que um dia foram dominados e favorecem os dominadores, afetando diretamente a vida, o bem estar e as chances de ascensão social de pessoas negras, pardas e indígenas.
Nesse contexto, a intolerância e discriminação religiosa contra crenças de matrizes africanas tornam-se, apesar de problemas atuais, reflexos de um passado baseado no preconceito e na hierarquia de raças. Fomos doutrinados a acreditar em uma visão única e binária de mundo que define o que é belo e o que é bom, assim como o que é santo e o que não é a partir de um único ponto de vista: o branco. Assim como a população negra foi condenada e menosprezada, suas heranças culturais e religiosas trazidas de seus territórios de origem e mantidas como forma de resistência foram demonizadas, ao longo dos anos, através do racismo.
A liberdade religiosa é mais que um conceito idealizado, mas um direito fundamental que é garantido através da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e ratificado pela Constituição Brasileira de 1988. Por conta disso, a intolerância religiosa é um crime que deve ser punido severamente assim como qualquer outra ação que intervenha no direito de expressão de um indivíduo, podendo ser denunciado em qualquer unidade policial física ou digital através de um boletim de ocorrência. Não fique calado e não permita que ocorra consigo ou com os outros. Denuncie para que a justiça seja devidamente realizada e seus direitos sejam preservados.
Ana Beatriz Marçal, Andressa Francisco, Bianca de Souza, Bruna de Souza, Ester Oliveira, Geovanna
Le Gentil, Jéssica Passos, Priscila Oliveira, Raquel Carlim e Tamires Macedo.