Pensar na situação vivida pelas Pessoas Com Deficiência (PCD) não é uma tarefa fácil, pois exige um alto nível de empatia e uma compreensão de seu mundo que vai além da própria observação. O ato de pegar um ônibus, por exemplo, pode ser um evento muito difícil para pessoas com deficiência visual e cadeirantes, enquanto que, para a maioria dos cidadãos, acessar um busão não passa de mais uma tarefa em meio a tantas em seu cotidiano.
A sociedade foi e é moldada para pessoas que não portam nenhum tipo de deficiência, ao longo da história elas foram invisibilizadas, perseguidas, mortas, abandonadas, feitas de palhaços e até tratadas como animais. Através de muita luta e resistência, hoje adquirimos enquanto sociedade alguns direitos e políticas públicas voltadas a este grupo de pessoas, porém, isso é apenas o começo da luta contra toda
construção social segregatória e capacitista.
As nossas ruas, praças, estabelecimentos e as instituições de ensino são lugares que não conseguem comportar a maior parte desses cidadãos, os colocando, assim, à margem da sociedade. Muitos deles mal são vistos e, percebemos que, nas escolas, pouco se sabe acerca dos tipos de deficiência existentes e como podemos fazer para ajudá-los da melhor forma possível.
Existem diferentes tipos de deficiência, mas elas podem ser descritas sob dois grandes parâmetros: a física, caracterizada por questões que envolvem o corpo e sua estrutura, enfrentando problemas relacionados a estes; e a cognitiva, com problemas que cobrem a região da mente e todas as suas ligações com o corpo humano.
Ambas possuem seus níveis e intensidades, o que provoca impasses na vida daqueles que as possuem, as consequências de viver em uma sociedade mal estruturada e culturalmente despreparada para o seu acolhimento recaem sobre si. Por exemplo, sabe-se que a maioria dos transportes públicos como os ônibus ainda não foram bem formados para capacitarem pessoas com deficiência física e cognitiva, um claro exemplo disso são as rampas de acesso e os elevadores, que não se encontram em todos os ônibus e aqueles que têm muitos não funcionam.
A falta de acessibilidade para deficientes visuais no ônibus, também é um grande problema, os avisos sonoros que ajudam as pessoas a se localizarem, dentro e fora dele, há um déficit no que tange a acessibilidade nos pontos e dentro das conduções; em alguns existe a sinalização dentro dos ônibus acerca das próximas paradas e do destino final. Um exemplo de transporte público que tem uma maior acessibilidade são os metrôs, que sempre sinalizam a sua chegada, as próximas paradas e o destino final.
Além disso, a soma de preconceito e paradigmas enraizados e estruturados em nossa sociedade acerca de PCDs, junto a diversos pensamentos errôneos sobre pessoas com dificuldade e a dúvida sobre sua capacidade. A Paralimpíada, competição mundialmente conhecida, é um ótimo exemplo de ilustração, pois a de 2020 realizada em Tokyo, o Brasil ficou em 7º lugar no ranking geral, somando 72 medalhas, sendo elas 22 de ouro, e cabe mencionar também que não houve transmissão de jogos como houve nas
Olimpíadas.
Para ilustrar mais uma forma de violência dentro das escolas, temos o caso da Julia Tavares, uma jovem comunicadora, de 21 anos, que ainda luta para terminar os seus estudos e ingressar no ensino superior. A jovem relatou que no ano de 2016 sofreu um acidente, que a deixou com sequelas que causaram uma eficiência física, a jovem até então estudava no turno da noite, e ao retornar a escola no ano seguinte, apesar de a instituição estar preparada para receber alunos com deficiências físicas, estando equipada
com rampas para cadeirante, por exemplo, a aluna não se viu acolhida e compreendida pela escola, pois a equipe da escola por tê-la conhecido antes de adquirir a deficiência, não levava a sério as limitações adquiridas.
Julia e sua mãe solicitaram que fosse transferida para uma sala no primeiro andar, equipada para deficientes, mas a escola se recusava a acreditar que ela precisava desse acesso. “Eu estudei a vida inteira na escola e não fui compreendida quando necessário”, relatou. Por conta disso, a mesma foi para o turno da manhã, a qual é coordenada por outra direção, e assim, teve suas necessidades atendidas. Nos últimos anos, a jovem não estava e não está estudando, por conta de uma das cirurgias a qual foi submetida, e ainda aguarda por mais uma. Porém, além de todas essas adversidades, a jovem ainda sonha em terminar os estudos e ingressar no ensino superior para cursar enfermagem. Quando questionada do porquê, ela desabafou: “Eu sempre admirei essa profissão, e eu também tenho pessoas da minha família que também são da área de enfermagem, e em todos esses anos desde que me acidentei, só passei a admirar ainda mais, os profissionais que cuidaram de mim”
O progresso das PCD nas escolas vai depender da forma como elas são acolhidas na instituição, ou seja, por meio de acessibilidade para suas necessidades, da forma como lhes são apresentadas os conteúdos e de como são recebidas pelos professores e pelos alunos da sua turma. Algumas delas necessitarão de um atendimento especializado, o que, muita das vezes, não é possível por falta de investimento na preparação do docente para o recebimento de alunos em condições diferentes das habituais. Muitas vezes, por não receberem o apoio e o cuidado que precisam, muitos dos alunos com deficiência se sentem desmotivados a dar prosseguimento aos estudos por acharem que as escolas, assim como
a maioria dos outros ambientes, não foram construídas e elaboradas pensando em existências como as deles, o que os desmotivam, ainda mais para alguém com uma idade em que está começando a entender o funcionamento da sociedade e o posicionamento que eles possuem em suas comunidades.
Cabe citar que, a carência de rampas e elevadores para cadeirantes nas escolas, a falta de inclusão no esporte e cultura dentro das atividades escolares, a ausência de palestras sobre os tipos de deficiências existentes e que tratem também a questão do bullying que esses estudantes sofrem, entre outros fatores, é o que vem aumentado a segregação desse grupo enquanto alunos. cabe relacionar como um fator de mudança o público receptivo de pais e discentes. Não obstante, a falta da utilização das próprias disciplinas como ferramenta de inclusão, como por exemplo, ofertar o ensino de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) na Base Nacional Comum Curricular, distancia ainda mais o aluno surdo não oralizado de seus colegas, já que por não falarem o mesmo idioma, a comunicação fica inviável. Cerca de 5% da população brasileira possui algum tipo de deficiência auditiva, portanto, o oferecimento dessa disciplina agregaria não somente no ambiente escolar, como também para a vida do aluno enquanto cidadão que vive em uma sociedade diversificada. Mudanças nas atitudes citadas anteriormente se fazem primordiais para que a educação inclusiva aconteça, respeitando o direito de todos.
Com isso, temos o caso da Anaquiel Basílio, uma jovem comunicadora de 23 anos, estudante de publicidade e propaganda que possui dislexia e TDAH [Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade]. A estudante relata que seu processo de entendimento e aceitação enquanto uma pessoa deficiente foi tardio, por falta de acesso à informação e conhecimento sobre o tema nas pessoas que a cercaram e a cercam, ao longo de sua vida, seja elas no âmbito escolar e familiar.
Na escola os professores reconheciam que ela tinha conhecimento sobre os assuntos tratados em sala de aula e uma bagagem que ia para além dela, porém, ela sempre foi questionada por não possuir um bom desempenho nas provas, e na cabeça de outras pessoas era pelo fato de ser “preguiçosa” ou até mesmo “burra”.
A jovem comenta que ao ler uma saga de livros, no qual o personagem principal tem traços da mesma deficiência que ela, foi quando ela foi questionar e pesquisar que ela também poderia ter a mesma questão, isso se deu somente aos seus 18 anos, um processo completamente tardio causando sequelas em sua jornada. Após uma série de exames e consultas médicas foi confirmado a sua deficiência. Anaquiel, uma jovem que carregou ao longo de toda sua vida diversas famas pejorativas, causando sequelas em sua autoestima e autoimagem, agora tem ciência de que ela não é tudo de ruim ao qual ela foi aferida, ela apenas tem uma singularidade que se esvai quando comparada a outras potências que a
mesma possui.
As instituições de ensino superior não visam com ênfase para melhor compreensão dos futuros docentes, acerca do cuidado, da existência e da melhor forma de inclusão das PCD nos âmbitos escolares. As escolas junto aos professores e a população devem lutar e cobrar do Estado para que o ambiente escolar seja um lugar seguro, inclusivo e respeitoso, onde haja a democratização do acesso e para que todos sejam recebidos com o devido acolhimento, independente de suas condições físicas ou mentais.
É direito da criança ou adolescente com deficiência, uma educação de qualidade e inclusiva ao longo de toda sua vida, em qualquer nível de ensino, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Também, segundo o Estatuto da pessoa com deficiência, o poder público é responsável por assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar e acompanhar o aprimoramento do sistema educacional no que diz respeito a estar pronto para promover a educação inclusiva, é um projeto pedagógico que tenha ênfase em atender as necessidades desse grupo.
É de suma importância que a escola se prepare para receber os alunos com deficiência, antes mesmo da chegada deles, e não que deixe para pensar no assunto após a matrícula do mesmo. Por isso, caso o aluno em questão que possua alguma deficiência tenha qualquer um de seus direitos negados, o mesmo, juntamente com seu responsável deve procurar um advogado e fazer uma denúncia ao Ministério Público Estadual, ou ao Ministério Público Federal.
Produzido por: Alessandra Pereira, Ana Beatriz, David Lucas Vaz, Julia Tavares, Laleska Vaz, Maria Luiza, Maria Vitória, Mariana, Marinara Alves, Rafaella Silva, e Zuri Moura.
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