O poder da Igreja e da religião de formar pessoas intolerantes e seu papel sobre a perseguição sofrida pelos cultos de matriz africana, o direito à liberdade de escolha.
Para quem não sabe identificar como ocorrem situações de intolerância, é comum que elas se manifestem através de discriminação, profanação e agressões, além de ofensas e rechaço a religiões, liturgias e cultos.
Muitas igrejas, como por exemplo as evangélicas, demonizam as religiões de matrizes africanas e as pessoas que frequentam esses espaços podem ser influenciadas a atacar outras religiões da mesma forma. Algumas pessoas não conseguem andar nas ruas vestidas do jeito que gostam e que se sintam bem ou compartilhar sobre a sua religião nas redes sociais porque são desrespeitadas, sofrem agressão e chegam até a sofrer racismo. Então, simplificando, todo o cidadão brasileiro, tanto para aqueles que possuem uma religião e exercem sua crença, quanto aos que não têm religião, têm o direito e é amparado por lei para manifestar sua ideologia ou fé por uma determinada religião. Assim, a intolerância religiosa é uma contradição dentro da própria religião, pois não se pode pregar o ódio, a violência e o desrespeito a um semelhante, não importando a crença de que esta origem foi num Deus, em Orixalá, no titã Prometeu ou na evolução das espécies (Evolucionismo).
Com o crescimento da diversidade religiosa no Brasil, é verificado um crescimento da discriminação religiosa, tendo sido criado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa (21 de janeiro) por meio da Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como um reconhecimento do próprio Estado da existência do problema. As descriminações equivalem a praticamente 60% de todos os casos de intolerância religiosa registrados de 2011 a junho de 2018. Levantamento da organização Gênero e Número, com base em dados do Disque 100, indica mais precisamente que 59% dos registros eram relativos a religiões como a umbanda e o candomblé; 20% a religiões evangélicas; 11% a espíritas; 8% a católicos; e 2% a ateus. Com a implementação do Decreto Federal nº 119-A/1890, houve a extensão e ampliação dos direitos à liberdade religiosa no Brasil. Com isso, todos os brasileiros e estrangeiros que vivem no País são livres para praticar sua fé, seja em ambientes fechados, em casa ou igrejas, bem como em lugares públicos.
Não podemos odiar aquilo que não conhecemos, se isto não afeta a nossa existência, todos devem aprender a conviver com as diferenças.
Relatos de intolerância religiosa:
Um incêndio criminoso destruiu todo o barracão da Casa do Criador, que Mãe Conceição coordena em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Móveis, eletrodomésticos, roupas de santos e de integrantes dos trabalhos foram consumidos pelas chamas, que também abalaram a estrutura da laje. Seriamente comprometida, teve de ser demolida. Outro grande prejuízo. Durante um ano, nenhuma atividade religiosa pode ser realizada ali.
“Em todos os ataques, sempre fiz boletim de ocorrência logo após. Havia até boa vontade da polícia, mas apesar da materialidade dos fatos, não foi identificada a autoria em nenhum deles. Todas as possibilidades aventadas e investigadas não deram em nada. Para nós, fica a incerteza, a insegurança, a impotência diante disso tudo, porque a gente não conseguiu que ninguém fosse punido, e essa é a grande questão”, conta Mãe Conceição.
Uma moradora de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, praticante do Candomblé acusa um motorista da Viação Tanguá de intolerância religiosa. Fabiana Figueiredo de Souza, de 23 anos, alega que foi constrangida pelo profissional que, logo depois de dizer que a linha não ia até o destino desejado pela jovem, teria afirmado que “não carregaria uma macumbeira”. O caso está sendo investigado pela polícia.
“Não consigo entender como uma pessoa pode me julgar só porque estou vestida de branco, Eu claramente que a linha do ônibus era 39 (Marambaia – Coroado), mas ele insistia que só ia até Alcântara! Quando desci das escadas, minha irmã escutou o motorista falando que não levaria macumbeira” disse Fabiana.
Ela foi encorajada pelo pai de santo Gilmar Hughes, coordenador da Comissão de Matrizes africanas de São Gonçalo, a fazer um registro de ocorrência sobre o caso.
Texto por Jovens Comunicadores.