A prática esportiva no Brasil é oferecida de maneira igualitária para todos?

O período das olimpíadas é um dos momento onde mais se dá atenção para os esportes, trazendo uma reflexão que se repete a cada quatro anos: “A falta de investimento nos esportes no Brasil”. Em muitos países as medalhas são resultados dos investimentos públicos e privados direcionados às práticas esportivas, porém no Brasil, não é tão fácil conseguir algum tipo de patrocínio ou incentivo, mesmo dentre os atletas que têm grande potencial.

Analisando os problemas estruturais da sociedade, tais como: racismo, machismo, LGBTfobia, capacitismo, dentre outras formas de opressão, o abismo das desigualdades fica cada vez mais profundo. As grandes mídias do país associam a vitória de medalhistas olímpicos ao seu esforço e a sua bravura, porém, cabe uma análise de quem são essas pessoas, e se as mesmas tiveram oportunidades de crescimento no esporte ao longo da sua vida. No dia 15 de janeiro é comemorado o Dia Nacional do Jogo Limpo, mas como é possível afirmar que existe um jogo limpo e comemorá-lo quando se vê claramente pessoas privilegiadas por sua classe social, gênero ou sexualidade e outras que não tem oportunidades pelos mesmos motivos?  

Quando você é uma pessoa negra, mulher ou LGBTQIA+, é muito difícil sobreviver em uma sociedade com tamanhos preconceitos. Ao longo da história, sempre se é visto a imagem de um homem cisgênero e branco, como um símbolo acertivo da representatividade, em uma sociedade que foi feita para lhe servir – tendo como molde a aristocracia colonial – uma pessoa que foge dos padrões sociais impostos, o caminho é muito mais árduo. Nosso maior exemplo disso é a Marta da Silva, uma mulher negra e lésbica, eleita a melhor jogadora de futebol feminino do mundo seis vezes, uma excelente profissional que recebe um salário abaixo do valor, quando comparado a jogadores masculinos que não chegam a sua estatura.

A título de exemplificação, uma pesquisa realizada pela ONU Mulheres afirma que seria necessário o salário de 1.693 mulheres jogadoras de futebol das sete primeiras ligas do mundo para que fosse pago o salário de um jogador de futebol masculino. Esse dado ressalta, que apesar do aumento da participação feminina nas olimpíadas, por exemplo (era 45% na Rio 2016, e na Tóquio 2020 subiu para 48,8%)  o Brasil ainda tem muito o que melhorar no que diz respeito à valorização das mulheres no esporte.

Nas Olimpíadas de Tokyo 2020, durante a subida de Rebeca Andrade ao pódio pela ginástica olímpica, Daiane dos Santos [ex atleta da ginástica olímpica] se emocionou ao ressaltar a dificuldade que pessoas negras enfrentam por muito tempo para chegar até onde a Rebeca chegou e alcançar o devido prestígio. O caminho a ser percorrido ainda é longo, mas vitórias como essa de Rebecca Andrade, causam um impacto enorme e voltam os olhos da sociedade para situações como essa, além de dar voz a pessoas que vieram de realidade como ela, porém, para que atletas dessas realidades consigam alcançar esse reconhecimento, é necessário mais investimento em esportes que hoje são tão precarizados.

Atletas têm sonhos e expectativas, mas também inúmeros impasses que dificultam seu desenvolvimento através do treino. Muitos deles, nem sequer possuem um espaço apropriado para tal prática, o que dificulta ainda mais o seu progresso nas competições. Todos eles lutam em prol de um objetivo e muitos fazem isso desde cedo para conseguir chegar em grandes disputas, porém a maioria segue sem o devido apoio, mesmo que se destaquem em suas categorias. Os esportistas que praticam esportes menos conhecidos possuem pouca probabilidade de adquirir patrocínios ou bolsas para se manter enquanto atleta. Muitos precisam fazer atividades extras para compensar a falta de auxílio governamental, em busca de satisfazer suas necessidades.

Diante de tantas ausências, questões podem surgir sobre os atletas e a vida que muitos deles levam por receber pouco prestígio social e econômico, por serem invisíveis perante ao país que representam em suas competições. Como fica a sua saúde mental? Suas lutas e treinos diários para conseguir ganhar as competições e campeonatos têm gerado satisfação perante a tantos problemas enfrentados? Qual é a sensação de estar representando um país, que negligencia suas demandas como atletas? Apesar de não ser dito com frequência nas grandes mídias, podemos perceber com alguns relatos o nível de insatisfação que muitos dos esportistas têm devido à falta de recursos para a prática de esportes.

Lucas Mazzo por exemplo, atleta da marcha atlética 20km, relatou ao Globo Esporte sua experiência tendo como renda apenas o bolsa atleta (Sistema de investimento para atletas do governo federal), bolsa essa que custa menos de um salário mínimo. Lucas fala sobre as dificuldades em se manter fazendo o que ama tendo pouco reconhecimento.

“Um monte de gente me manda: “Traz o ouro, traz o ouro!”. Cara, é o meu sonho. O sonho de qualquer atleta é ser campeão olímpico. Mas é muito difícil a gente que não tem apoio chegar onde os maiores estão. Eu fiquei um ano e meio sem pisar numa pista de atletismo, tendo que ir andando para o lugar onde eu treino. É até triste falar isso: eu não tinha dinheiro para pegar o ônibus. Eu já treinei em tanto lugar absurdo, já dei 125 voltas em um salão de festas de 20 por 40 metros” – disse Lucas ao Ge nas Olimpíadas Tokyo 2020.

Histórias como a do Lucas se repetem inúmeras vezes, atletas sem investimento, sem renda, que precisam dar seu sangue dentro e fora da prática esportiva para tentar alcançar uma certa visibilidade da mídia, e, assim, atrair patrocínio. A falta de investimento afeta atletas profissionais e também atletas de categoria de base. Atletas estes que provavelmente saíram de projetos sociais.

Em 2021 percebemos que vários atletas que subiram ao pódio olímpico já participaram de algum projeto social. Os projetos sociais servem para apresentar àquele jovem novos esportes e uma vida mais saudável, mas sem perceber ajuda o jovem a trilhar um novo caminho e a achar um novo sonho. Os projetos sociais são responsáveis por salvar nossos jovens e criar novos atletas, que lá na frente subirão ao pódio para representar o país.
Com o intuito de tornar a prática esportiva mais acessível e inclusiva, na cidade de Niterói existe o Projeto Grael, no qual falaremos mais na nossa próxima matéria. Não deixe de acompanhar nossas redes sociais para vê-la e se você quiser saber mais de alguns lugares onde podemos encontrar diversas práticas esportivas gratuitamente, pode clicar nesse link <https://bemtv.org.br/educacao-fisica-nas-escolas-do-brasil-e-do-mundo/> e ler a matéria sobre a educação física nas escolas do Brasil e do mundo.

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