Moda é um documento que acompanha e registra a trajetória de um povo. Desempenha papéis importantes na sociedade. É por meio das indumentárias que realçamos significados que dizem quem somos e de onde viemos, sendo importante, ainda, expressarmos mediante ao que usamos. E na periferia essa premissa não é diferente!
É por meio de origem, trajetória e estilo de vida que se evidencia a moda presente nas favelas da sociedade brasileira. O estilo periférico, como se nomeia as roupas vestidas por quem mora em uma área à margem da cidade, tipifica a vestimenta de quem vive ali e parte de um lugar singular e perene, da arte.
Esse estilo de roupa tende a valorizar narrativas e anseios de quem o veste, e, acima de tudo, dá palco para diversidade, acessibilidade e tamanha personalidade. O que o difere da alta moda e do universo fashion luxuoso.
A Agência Jovens Comunicadores entrevistou dois nomes que são destaque na moda periférica carioca: Laerte e Carlos Melo. Eles responderam às seguintes questões:
1- “A moda periférica é uma forma de resistência”, diz a artista visual e modelo Vic de Carvalho. Conte o seu ponto de vista sobre essa citação para nós.
2-Para você, qual é a importância da moda nas comunidades?
3- Qual é principal diferença entre a alta moda e a moda da periferia? O que cada uma delas representam?
4- Você vê a possibilidade de uma união entre esses dois tipos de moda?
Confira abaixo as respostas!
Biografia – Laerte
Laerte, 20 anos , morador da Maré. Pintor, poeta e figurinista.
“A moda pra mim também é resistência é sobre mostrar quem nós somos e de onde viemos e para onde vamos a moda é a história contada sob nossos corpos é perceber o quanto somos diferentes da elite quando se trata até de roupas, de senso critico…a moda pra uma pessoa preta e favela pra mim é ter cuidado comigo e com os meus, cuidado daquele que te faz olhar no espelho e se sentir bem consigo mesmo.
A importância de termos moda na comunidade é pra primeiro de tudo sermos valorizados como pessoas, potências é sobre sermos vistos como PESSOAS e não ANIMALIZADOS! É sobre nós percebemos que somos capazes de tudo.
Sob as minhas experiências a diferença é gritante a começar por quem produz a alta moda que em sua maioria são pessoas brancas e isso traz um recorte perfeito de quem ainda está nesses cargos e produzindo essas roupas que MUITA das vezes é por vias de trabalho escravo. A moda da favela é criada por nós, feito pelos nossos e só isso já é autoexplicativo, pelo menos pra mim. é referencia. Sinceramente, eu não vejo uma possibilidade de união, isso é uma utopia, a elite sempre vai nos ver como mão de obra e nunca como corpos competentes é doloroso mas é a verdade.“
Biografia – Carlos Melo
Carlos Melo, 18 anos. Zona Oeste do Rio de Janeiro – Sepetiba. Trabalha como estilista, empreendedor independente e também na área da dança, como bailarino, professor de jazz e ballet.
“Concordo completamente com essa citação! A moda periférica, muitas vezes não vista e às vezes até mal vista, tem lutado muito para conseguir o seu lugar e o respeito no mercado da moda, carregando toda a estética e resistência que tem a periferia. A moda é uma forma de expressão e arte e todos devem ter acesso a esse conhecimento. Acho super importante a moda nas comunidades, escolas e projetos.
a moda ajuda muito na construção da nossa identidade individual, a nossa roupa também funciona como um instrumento de inserção em contextos sociais. A moda e o conhecimento é necessário na vida de todos!
Na minha opinião principal diferença entre as duas é que a alta moda é inacessível para grande parte da população e a moda periférica é acessível para todos. Acredito que a moda periférica se destaca por ser fora dos padrões, por ser livre e por mostrar a realidade da periferia e do nosso cotidiano do dia a dia. A moda periférica não tem uma regra exata sobre o errado e o certo, sem contar a diversidade que vem da
periferia. Diferente da alta moda ou alta costura que tem todo um padrão nas peças ou modelos,
mostra na capa das revistas uma realidade que a maioria das vezes não é nossa.
Essa união já vem acontecendo, mas não é muito bem vista pelas pessoas. por misturar uma pessoa normal com a alta moda, muita gente acha que acaba tirando toda a “classe” das peças… coisa que eu super discordo. Não precisamos de roupas caras para ter estilo, estilo é pessoal e interno! Não precisamos de peças caras para acompanhar as tendências.“
Alguns trabalhos de Carlos Melo:
Fonte: https://contramao.una.br/from-ghetto-to-laje-a-simbologia-da-moda-periferica-em-volta-do-churrasco/
Capa: Mille Lab no São Paulo Fashion Week. @Thais Prados. Foto: Agência Mural.
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