Entrevista com Júnior Dantas, o “Pequeno Príncipe Preto”.

Estreou no início de setembro o clipe da música “A baobá”, do espetáculo “O pequeno príncipe preto”, inspirada no “o pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry. O clipe é estrelado pelo ator da peça, Junior Dantas e conta com a direção de Vantoen Pereira Jr e a participação de Ruth de Souza. Renomada atriz e primeira mulher brasileira a receber um prêmio internacional de cinema, faleceu recentemente, sendo essa sua última experiência com o audiovisual.

O espetáculo trata de assuntos como representatividade e ancestralidade e no clipe “a baobá”, não foi diferente: proporciona ao seu público proximidade, identificação. As crianças brincam, reconhecem suas origens e entram em contato com os significados e histórias que exaltam a cultura negra e valorizam a multiplicidade cultural que há em cada povo.

O espetáculo e o clipe colocam como ideia central o sentimento de pertencimento e ancestralidade, em que a “Baobá” simboliza a ascendência, e o príncipe a criança que brinca e tem a vontade de descobrir a ela e o mundo. Na peça e na produção audiovisual a interação do ator com o público vai de encontro a importância da diversidade cultural; o personagem cativa a plateia e se opõem a preconceitos, mostrando que fenótipos afros são admiráveis e estão presentes nele, o príncipe. 
A canção é de autoria de João Vinícius Pereira, diretor musical do espetáculo, filho de Vantoen Pereira.

Para Junior, o valor sentimental é ainda maior. Quando criança ouviu de uma professora sobre só existirem príncipes brancos. Hoje, ele comemora um ano de apresentações em que ele é o pequeno príncipe preto.

Conversamos com Júnior Dantas, que nos contou sobre sua carreira, a peça e o clipe.

A peça, escrita pelo ex-BBB, dramaturgo e professor de direitos humanos Rodrigo França, completou 1 (um) ano em 2019 e conta com mais de 50 (cinquenta) mil espectadores aos teatros.

– E como foi sua infância, conte um pouco da sua trajetória, de onde você veio, se você sempre quis ser ator?

Junior – Oi pessoal! Então minha infância foi em uma cidade chamada Ipueira, que fica no interior do Rio Grande do Norte, uma cidade bem pequena, é o segundo município menos populoso do estado, tem um pouco mais de cerca de 2 mil habitantes. Então a minha vida foi toda lá até a adolescência, então eu frequentava o circo, grupos de teatro da região, teatro ainda amador e eu sempre vivi nesse mundo muito livre, mágico, lúdico e desde de lá de Ipueira, que eu fazia teatro, seja na igreja, na escola, em casa, na rua, eu gostava muito. E eu sonhava em sair de lá, entrar em uma companhia de teatro. E eu consegui isso quando fui morar em Campina Grande. Fui para lá fazer faculdade de jornalismo, então lá eu já fiz parte de duas companhias de teatro. De Campina Grande, eu fui morar em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, também fiz parte de outras companhias, e quando eu vim morar no Rio de janeiro foi quando eu passei no teste para fazer parte da companhia “Omondé”, que é dirigido pela Inez Viana, que eu faço parte até hoje. Tô nessa companhia a dez anos, mas sim eu sempre sonhei em ser ator, viajar, sair interpretando e conhecer lugares, pessoas e ter esse lugar de fala tão importante: você usar o seu corpo e tudo que você tem a oferecer às pessoas

– Vocês acabaram de atingir a marca de mais de 50 mil espectadores, ao ser chamado para o papel você imaginou que atingiria essa marca?

Junior – O “Pequeno Príncipe Preto” é um espetáculo que me traz muitas alegrias, a gente já ultrapassa a marca inclusive dos cinquenta mil espectadores. Nós começamos pelo Rio de Janeiro, já fomos para outras cidades, outras regiões do Brasil, a gente só ainda não foi para região sul do Brasil, mas eu quero muito chegar na região sul. E é um espetáculo para a família, que vai o pai, a mãe, o avô, a avó, as crianças. Tem gente que vê e volta para assistir a peça, e as pessoas também indicam muito a peça. E isso nos deixa muito feliz, que é uma peça que chega para todo mundo que fura essa bolha do teatro, a gente acaba se comunicando com essa massa, que é muito bacana!  E esse espetáculo surgiu a partir de mim, de uma história pessoal que eu até conto no espetáculo, que na minha cidade Ipueira, eu queria fazer o príncipe na escola e eu ouvi da minha professora que eu não iria ser o príncipe, porque eu não era loiro, não tinha os olhos claros, então eu não poderia ser o príncipe, e eu cresci com isso. E junto com o Douglas Rezende a gente começou a pensar nesse espetáculo, a fazer o projeto, e daí vieram as outras pessoas, o Rodrigo França, que é o autor e diretor. Nós temos uma equipe maravilhosa de profissionais que toparam fazer parte desse projeto, porque no início é apenas um sonho, a gente não imagina as proporções que isso vai tomar, porque não tem uma fórmula né? Aí como fazer uma peça de teatro? Será que vai ser sucesso? Então assim, eu quero agradecer muito ao público, agradecer a toda equipe, agradecer aos amigos agradecer a ancestralidade porque realmente não se faz teatro sozinho.

– UBUNTU é uma palavra muito usada no clipe e na peça, conte-nos qual o significado dela?

Junior – Nós falamos muito sobre “UBUNTU” no espetáculo é uma palavra que vai do início ao fim e tem um momento que eu explico o que é o “UBUNTU”, que significa “eu sou porque nós somos”, que também significa “nós por nós” e aí eu dou um exemplo no espetáculo que eu coloco um cesto de balas de baixo árvore, e mando as crianças correrem pra pegar essas balas e elas correm todas de mão dadas. Porque para elas o importante é que todo mundo tenha essa bala, o coletivo, que seja dividido, compartilhado. Então essa palavra “UBUNTU” é uma das mensagens que a gente quer passar no espetáculo que também a gente fala de cultura africana, cultura brasileira sobre ancestralidade, sobre amor sobre empatia, sobre respeito então é um espetáculo que traz vários temas.

– Percebe-se que o público cria um afeto pela identificação com o seu personagem. No clipe a Dona Ruth fez uma das suas últimas participações no meio audiovisual, atuando como a baobá. Você pode comentar um pouco a representatividade que ela teve para você, e se você consegue sentir que também é essa influência positiva para as crianças que te assistem na peça?

Junior – Primeiro eu fico muito feliz em ser o pequeno príncipe preto, porque eu não lembro na minha infância ter personagens com referências tão positivas, de ter um super-herói negro, de ligar a televisão e me reconhecer me ver nos livros, e aí o pequeno príncipe preto me traz tudo isso que eu também não tive, que minha geração não teve e que as crianças hoje estão podendo ter esse acesso, acho que por isso criar essa empatia. E quando a gente pensou em Dona Ruth de Souza, que o nome do clipe da música se chama “A Baobá”, que baobá é uma árvore africana, uma árvore que significa respeito, ancestralidade e aqui no Brasil tem umas árvores dessas, e inclusive onde a gente gravou o clipe, que foi no Campo de Santana, que foi no passeio são árvores que pessoas escravizadas trouxeram para o Brasil e a gente pensou muito na dona Ruth de Souza, ela já tinha 98 anos, é uma referência, uma pessoa que abriu caminhos para os artistas negros, de uma grande simbologia e ela topou participar. Então assim, ter Dona Ruth de Souza no nosso clipe foi uma honra, uma grande alegria e das crianças também assistirem o vídeo e perguntarem: “Mãe, pai quem é essa rainha, quem é essa senhora?” E os pais contarem toda a história de Dona Ruth, e eu acho que é uma troca assim muito bacana do trabalho do espetáculo de trazer essas questões. Uma das preocupações do espetáculo é que a peça não acabe no teatro, é que as pessoas saiam de lá questionando coisas conversando abrindo um diálogo entre os pais e os filhos.

– O clipe foi produzido em comemoração ao primeiro ano da peça. Vocês tiveram um motivo especial para a escolha dessa música em específico?

Junior – O clipe foi realmente uma comemoração de um ano, nós queríamos fazer algo que fosse muito especial assim e todas as apresentações sempre tem alguém que pergunta ou que manda alguma mensagem nas redes sociais, “como é que eu ouço as músicas, vocês já colocaram em algum lugar, já pensaram em gravar essas músicas? ” E isso foi ficando na nossa cabeça e aí eu falei com o João Vinícius que é o diretor musical ele que compôs as músicas que fez os arranjos, que fez tudo, um gênio. E eu falei “João vamos gravar a música dá A Baobá?” Porque a música da baobá é a primeira música que a gente canta no espetáculo e acaba que vira a música referência as pessoas já saem cantando o refrão, uma música que fica na cabeça e a gente gravou a música convidamos uma equipe de amigos que toparam fazer o clipe, inclusive quero agradecer a todas as pessoas que participaram do clipe as crianças, e aí fizemos esse clipe, é um clipe que eu acho que tá muito bonito é uma música que tá com muita poesia, muita sensibilidade, que tem animações também e é um clipe para todas as idades assim. E espero que venham os próximos clipes, as próximas músicas, que a gente grave e todo mundo tenha acesso, quando eu pensei também em gravar o clipe eu pensei em atingir outros públicos, pessoas que nunca foram nos ver no teatro, pessoas que ainda não sabem que a peça existe então a gente pode tá também usando as redes sociais para esse tipo de divulgação

A resposta tem sido muito positiva do clipe, da música “A Baobá”, e sim nós temos o projeto de gravar todos as músicas e para que todas as pessoas tenham acesso às músicas do espetáculo para que todo mundo cante em em casa e que as pessoas que já viram a peça no teatro fiquem relembrando cantando e quem não viu ainda conheça um pouco do nosso trabalho eu acho que o pequeno príncipe preto vai ficar muito tempo ai cartaz a gente tem muito alegria em tá em cima do palco ou seja em que lugar for fazendo o espetáculo e cada vez mais as pessoas estão conhecendo a gente tem recebido muitos convites, a gente tá com a agenda bem bacana então aí a idéia é que a gente fique muito tempo e sim que a gente grave todas as músicas para que todo mundo tenha acesso.

O clipe está disponível no Instagram, Facebook e Youtube. A peça continua em cartaz e vem à Niterói no Teatro Municipal de Niterói nos dias 5 e 6 de outubro.

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