ilustração de crianças em sala de aula. Em primeiro plano, criança com olho roxo, machucada.

Como o âmbito escolar pode se tornar uma rede de apoio

Quem será nosso apoio?

A escola é nosso lugar de aprendizado e, muitas vezes, um refúgio para os alunos. Lá, aprendemos conteúdos que vão além das matérias que estudamos diariamente, entendemos também como as relações humanas são construídas, somos ensinados sobre as leis e regras, internalizando formas de viver e se adaptar socialmente. Enquanto crianças e adolescentes, a ida às escolas nos é obrigatória e, depois de nossas casas, as instituições escolares são o lugar onde passamos boa parte do tempo. Elas também podem ser a fonte de apoio em casos de violência, seja qual for o caso, pois existem regulamentos que garantem a segurança e o apoio aos estudantes que demonstrarem estar em situações conturbadas, enfrentando problemas que afetam diretamente o bem estar físico e mental deles.

As violências que ocorrem em nosso país são um assunto sério e, infelizmente, os acontecimentos ocorrem frequentemente. Na escola, presenciamos vários tipos de agressões e, muitas das vezes, o impasse não é solucionado ou é ignorado pelas pessoas que deveriam se responsabilizar pelo caso. Apesar de não serem os agressores, os profissionais que atuam nesses cenários, observando acontecimentos que por lei são inaceitáveis e ilegais e não fazem nada para mudar, se tornam coniventes. Cenas de bullying, de relacionamentos tóxicos e preconceitos, são alguns dos acontecimentos vividos nesses ambientes escolares, acarretando em humilhações, exposição, sofrimento, dor e inseguranças. 

Por passarmos pelos mais diversos eventos enquanto estudamos, cada indivíduo internaliza os acontecimentos, sejam eles bons ou ruins, de formas diferenciadas devido às suas experiências no meio escolar. Para alguns, os melhores anos de suas vidas estão relacionados à época em que estudavam e passavam seus dias despreocupados com o futuro, curtindo o momento, dedicando-se apenas a educação, vivendo do melhor jeito possível.

Enquanto que, para outros, as salas de aula e todo o resto podem ser um lugar de extrema tortura, essas pessoas passam por momentos aterrorizantes que são capazes de danificar suas memórias acerca da educação que recebeu. Muitos jovens, por exemplo, sofrem diversos tipos de violência como a verbal e psicológica, ambas muito presentes no ambiente escolar.

A verbal pode muitas vezes ser entendida como uma mera brincadeira entre alunos ou até professores, porém há de ter muito cuidado e atenção com tais “brincadeiras” que muitas vezes podem levar a ofensa . Além disso, há também a violência verbal mais direta, no qual o bullying é um claro exemplo disso. Já a psicológica envolve muito mais o sentimental e, principalmente, o mental do ser humano.

Qual foi o seu amparo? 

Uma das violências bem presente nas escolas, são as relações abusivas, tanto entre casais heterossexuais, quanto aos casais homossexuais. Podem começar com jogos de controle, ciúme excessivo, frieza emocional, passividade e agressões físicas e/ou psicológicas. Nessas situações, as mulheres tendem a ser as mais afetadas, vivendo ao lado de seus companheiros com medo, sendo manipuladas e ameaçadas por eles. Algumas tendem a acreditar que não encontrarão outra pessoa, ou acreditam que o parceiro irá mudar. Há também pressões familiares, dependência emocional, dependência financeira, medo de se expor e até culpa. Um relacionamento tóxico pode acarretar em problemas psicológicos, baixa auto-estima, inseguranças, sofrimento e marcas pro resto da vida. Alguns sinais são: humilhação, impondo forma de pensar e agir, controlando sua liberdade e suas vestimentas.

Em entrevista à uma convidada, que foi vítima de um relacionamento abusivo enquanto estava no ensino médio, ela relatou alguns dos abusos psicológicos que sofria e como foi a posição da escola enquanto rede de apoio para ajudá-la.

“Na época eu fiquei muito abalada, faltava e às vezes não conseguia nem ficar na sala de aula, ficava no banheiro chorando. Meu diretor me chamou algumas vezes pra conversar e dar alguns conselhos do que eu poderia procurar a fazer pra melhorar” – Declarou

A entrevistada ainda comentou que o corpo docente foi bem presente em tentar  lhe auxiliar na recuperação após o término – O diretor e alguns professores que sabiam da situação se preocuparam bastante comigo e me ajudaram a melhorar. Quando questionada se a existência de eventos, como palestras por exemplo, nas escolas, de maneira que viesse alertar os primeiros sinais de um relacionamento e a quem procurar nesses casos, se ela teria saído desse relacionamento antes, a entrevistada disse: “Acho que sim, mas seria difícil abordar esse assunto na escola, a maior parte dos pais são bem ignorantes no assunto”

Dessa forma, seria importante que o âmbito escolar oferecessem eventos que abordassem o tema, de forma a alertar possíveis vítimas, oferecer formas de apoio, e ter uma pessoa no ambiente escolar para ajudar na questão de aconselhamento, podendo fazer acompanhamentos e se for necessário, um encaminhamento para psicólogos, desse modo, as escolas poderão se tornar um local de apoio para os estudantes.

Conversamos com uma representante da CEDIR (Coordenação de Educação em Direitos), que tem como um dos objetivos estimular uma formação para o corpo docente, promovendo mediação, resolução, redução de conflitos interpessoais e os episódios de violências envolvendo os alunos da Rede. A CEDIR possui como alvo os alunos e profissionais da educação da rede municipal de Niterói. A entrevistada menciona que a principal responsabilidade da escola enquanto rede de apoio para alunos que venham sofrer algum tipo de violência é respeitar o Estatuto da Criança e do Adolescente, e destacou o capítulo IV, artigo 56, que diz:

“Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:

I – maus-tratos envolvendo seus alunos;

II – reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares;

III – elevados níveis de repetência;” 

A CEDIR tem como função preparar profissionais por meio de reuniões e formações para que através deles seja promovida uma escola capaz de proteger crianças e adolescentes. A coordenação ainda tem um projeto chamado “Bora conversar” que atua especificamente na área de violência, a entrevistada disse que – O Projeto ‘Bora Conversar?’ surgiu de uma demanda das Unidades Escolares com alunos em sofrimento psíquico, inicialmente atendendo o 3º e 4° ciclos ( em parceria com a Coordenação da Saúde Mental Infanto  Juvenil da SMS). Ela ainda afirmou que além da melhoria das relações interpessoais entre alunos e profissionais das unidades escolares, o projeto “Bora conversar” ainda reduziu significativamente os conflitos no ambiente escolar.

Abaixo estão alguns canais que a escola pode ajudar o aluno a entrar em contato para formalizar qualquer tipo de denúncia relacionada a violência, seja ela acontecendo com ele, ou com alguém no seu ambiente familiar.

Disque 100 – Vítimas ou testemunhas de violações de direitos de crianças e adolescentes, como violência física ou sexual, podem denunciar anonimamente pelo Disque 100.

Conselho Tutelar – Para casos de violência física ou sexual, inclusive por familiares, casos de ameaça ou humilhação por agentes públicos, casos de atendimento médico negado, é necessário chamar o Conselho Tutelar. Verifique o contato do Conselho Tutelar da sua cidade, mas atenção: o atendimento pode ter sido alterado na pandemia.

Disque 180 – Em casos de violência contra mulheres e meninas, seja violência psicológica, física, sexual causada por pais, irmãos, filhos ou qualquer pessoa. O serviço é gratuito e anônimo.

Creas – O Centro de Referência Especializada em Assistência Social é responsável por atender crianças, adolescentes e famílias em situação de risco, seja por violência, trabalho infantil, cumprimento de medidas socioeducativas ou violações de direito. Cada município possui diversos Creas, encontre o mais perto de sua casa e entre em contato.

Produzido por: Beatriz Heitor, David Lucas Vaz, Maria Vitória Aleixo, Maria Luiza Aquino, Rafaella Silva, Marinara Alves, Laleska Vaz, Zuri Moura e Mariana Oliveira.

Veja mais conteúdos da Agência Jovens Comunicadores aqui.

O projeto Jovens Comunicadores é uma realização da Bem Tv em parceria com a Plataforma Pluriverso. Patrocínio: Lei de Incentivo à Cultura, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Petrobras, Governo Federal.

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