Educação em ruínas

As instituições de ensino exercem sobre a sociedade um papel que vai muito além do considerado básico (ensinar a ler, escrever e fazer conta), elas possuem papel fundamental na construção social de cada ser humano que passa por ali. Apesar de toda a importância que as instituições de ensino representam para sociedade, muitas ainda sofrem com a ausência de políticas públicas e acabam por ir às ruínas.

Muitos bairros, que convivem com a influência do tráfico de drogas pelo território, contam com instituições de ensino para garantir o acesso à educação aos moradores daquela região. Para o Estado, a melhor solução é encerrar as atividades no colégio e transferir os alunos para um bairro “mais seguro”, porém, esses alunos precisam dessas instituições próximas a si, visando a facilidade na mobilidade até eles. Quando a sociedade luta contra o fechamento dessas escolas, o governo pode até acatar o pedido, porém, não apresenta mais políticas públicas para essa instituição. A instituição permanece recebendo alunos, porém com escassez de recursos para oferecer-lhes uma boa qualidade de ensino.

Em alguns casos, as escolas realmente são abandonadas e mesmo a luta da população contra o fechamento não é suficiente para evitar que esse fechamento ocorra. Em São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, localiza-se o CIEP 425 (Marlucy Salles Almeida), fechado em 2016 e desde então encontra-se abandonado. Os alunos que frequentavam essa unidade foram realocados para um outro colégio estadual localizado no bairro Barreto em Niterói, onde desde então, percorrem cerca de 20 minutos a mais do que o faziam na escola anterior para chegar ao CIEP abandonado.

Além do CIEP 245, outras instituições de ensino como o CIEP 251 em Niterói, o Colégio Estadual Doutor Souza Soares também em Niterói, entre outros da região encontram-se fechados e abandonados pelos órgãos responsáveis. Alguns alegam que seu fechamento se deu devido a pouca quantidade de alunos que ainda frequentavam, mas o questionamento que fica é: Se não pode mais ser uma escola, por que deixar o prédio abandonado? Por que não usá-lo para construir projetos sociais, que com certeza seriam muito bem utilizados pela população local?

No Bairro Engenho do Mato em Niterói existe a Biblioteca Engenho do Mato (BEM), funcionando ativamente desde 2013. A BEM é uma biblioteca comunitária, pensada para atender a população local, que para ter acesso a uma biblioteca comunitária antes, tinha que percorrer cerca de 25Km. Essa biblioteca fica localizada no CIEP Ruy Frazão Soares, que tinha essa parte do prédio em condições precárias, já sem poder suprir as necessidades dos alunos.

A BEM era uma biblioteca que já existia na região. Um projeto do governador Leonel Brizola que tinha como secretário de educação Darcy Ribeiro, criador dos CIEP’s para todo estado do Rio “(…) Era o dia inteiro, era educação integral. Então, depois que Leonel Brizola saiu do poder, o próximo governo começou um processo lento e gradual destruição desse legado” – relata Beto Barcellos, um dos organizadores da reforma da BEM, em entrevista.

Beto contou um pouco sobre como foi a reforma da biblioteca que sequer tinha porta para manter em segurança o que havia lá dentro, o que fez com que ela fosse algumas vezes cenário de vandalismo. 

“Dinheiro não existiu. Havia um fundo de reforma na escola quando a comunidade assumiu a biblioteca que fez só o básico, que foi fechar as portas (que nem porta tinha, então estava aberta). As pessoas invadiam aquilo, então o fundo que a escola tinha de obra (da diretora que tinha lá na época) fez essa parte que foi conseguir fechar o espaço, e aí foram colocadas algumas portas e só. O resto todo foi feito com os recursos da comunidade, quer dizer, basicamente com mutirões. Nós chamamos várias pessoas e trabalhamos juntos. Os recursos somos nós.” – relata ele.

Beto ainda diz que a BEM ajuda muito a comunidade local e outras no entorno em termos de acesso à cultura, pois era uma região que tinha uma certa carência de acesso a ações culturais. “Nós vivemos numa região carente de equipamentos culturais, então a biblioteca era o único espaço que tínhamos e temos até hoje para reunir outros coletivos culturais. Então a biblioteca foi juntando forças com outros coletivos; parceria com o Quilombo do Grotão, grupo de teatro, grupo de dança, e aí conseguiu implementar muitas atividades culturais. Além de ser uma bela biblioteca.”

A biblioteca funciona através de doações, então todos os livros lá presentes são doados diretamente pelas pessoas, enquanto outras vão lá e os pegam de acordo com sua necessidade, não há obrigatoriedade de devolução. Além disso, toda a manutenção estrutural do BEM é feita pela própria comunidade, que se organiza para fazer pinturas, alguma obra necessária, limpeza do terreno, entre outras coisas, é uma atividade completamente comunitária, mobilizando todos ao entorno.

Assim como foi feita a BEM, outras unidades escolares abandonadas poderiam servir de ambiente para diversos projetos culturais para a população. A BEM hoje funciona sem qualquer recurso público, mas é importante que políticas públicas sejam voltadas para locais como esse, para que ocorra um incentivo a continuidade desses projetos e que as ações geradas ali fomentem o início de novas iniciativas e projetos.

Para quem quiser conhecer e contribuir com doações para a Biblioteca Engenho do Mato, ela se encontra na Rua São Sebastião, Engenho do Mato, Niterói/RJ. Nas redes sociais: @bembiblioteca 

Produzido por Jovens Comunicadores: Ana Beatriz, Fernanda Costa, Gabriel Moreira,Kauan Vital, Maria Vitória Aleixo, Marinara Alves, Rafaella Silva.

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